Casa Kubitschek
A inspiração de Juscelino Kubitschek em erguer o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Pampulha teve origem tanto na sua vontade de criar em Belo Horizonte um espaço referência em lazer e diversão, quanto da intenção de urbanizar uma região considerada de difícil acesso e distante do centro da cidade. Para que tal empreitada tivesse sucesso, JK deu o exemplo. Incentivando o desenvolvimento habitacional da Pampulha, como parte do projeto do conjunto arquitetônico, encomendou a Oscar Niemeyer a construção de uma residência de campo para seu uso pessoal à orla da lagoa.
A Casa Kubitschek, projetada com traços modernistas ocupa 680 m² de um terreno de 2.800 m². Construída entre 1940 e 1943, quando foi entregue à JK, a residência foi projetada de modo a preservar ao máximo a intimidade da família. Objetivo alcançado tanto por meio da estratégia de recuo da casa para o fundo do terreno, quanto pela criação do jardim de Burle Marx na entrada da residência e da setorização dos seus espaços internos.
Logo na entrada vê-se o jardim adornado com rochas, palmeiras imperiais e um lago de carpas com o mesmo formato da lagoa da Pampulha. O telhado da residência chama a atenção ao reproduzir o formato borboleta, em ‘V’, utilizado no projeto do Iate Golf Clube. A diferença entre os telhados ocorre apenas pelo detalhe em madeira, típico da arquitetura colonial mineira, adicionado ao projeto da residência.
No interior da casa a organização dos espaços e os detalhes na decoração incrementada pelos painéis de Alfredo Volpi e Paulo Werneck, revelam os traços da arquitetura moderna de Oscar Niemeyer e suas parcerias. A área social foi pensada para abrigar as salas de estar, de jantar e de jogos; já a área de serviços, possuía cozinha, banheiro e dependência de empregados; e a área íntima, mais reservada, possuía três quartos. O banheiro se ligava ao quarto por uma porta extra com saída para a área da piscina, que por vezes foi apontada “pelos inimigos de JK como ‘saída de emergência’ para suas supostas amantes.” Nos fundos da casa principal, próximo a piscina foi construída uma casa menor, com três quartos, duas salas e um banheiro, que era utilizada por JK como escritório. Aquele era um dos lugares preferidos de Juscelino Kubitschek, ali ele “costumava trabalhar e atender os telefonemas tomando sol na piscina.”
A casa permaneceu ocupada pela família Kubitschek até 1945, quando JK rumou para o Rio de Janeiro para ser empossado deputado federal. Após sua partida, a casa ficou desocupada até 1956, ano em que o amigo, colega de seminário e padrinho de casamento, Jobert Guerra, ex-deputado e ex-prefeito de Diamantina, comprou o imóvel. Com a transação, a família Guerra passou a utilizar a casa, que sempre estava à disposição de JK em suas visitas à Belo Horizonte.
Após o falecimento de Joubert Guerra em 1977, sua esposa, Juracy Brasilience Guerra, permaneceu morando no local até falecer em 2004. Com a sua morte, a prefeitura de Belo Horizonte demonstrou interesse em adquirir a casa para transformá-la em espaço cultural.
Durante todo o período em que a família Guerra permaneceu no local, o imóvel e os móveis - em grande parte adquiridos pelo próprio Juscelino-, foram bem preservados. Dentre a mobília ainda estavam em boas condições, a geladeira e a cama de casal comprados por JK, além de uma mesa de bilhar francês e mais outros 90 itens.
Em 2005 os herdeiros da família assinaram o Termo de Desapropriação transferindo o imóvel para a prefeitura, que somente em 2008 iniciou as obras de restauração e adaptação do espaço para a instalação do Museu Casa Kubitschek, com base no projeto desenvolvido pela Diretoria de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte.
De acordo com a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), as obras de restauração de pisos, telhados, janelas, esquadrias, painéis artísticos e a construção de uma guarita, iniciados em 2008 com um orçamento de R$ 844,2 mil, tiveram de ser suspensas durante dois anos por falta de repasse de recursos da Caixa Econômica Federal.
A restauração somente foi reiniciada em 2011, com um aditivo de R$ 211 mil para a realização da pintura, correção de infiltração e rebaixamento de gesso. Finalizados em dezembro de 2011, nem todos os reparos realizados foram bem sucedidos. Em visita realizada ao imóvel pela reportagem do jornal “Estado de Minas” em março de 2012, foram verificadas goteiras em um dos corredores. Apesar desse fato, o painel de Alfredo Volpi e os mosaicos de Paulo Werneck já haviam sido restaurados. As paredes estavam pintadas conforme o projeto original, e o sistema hidráulico, responsável pela alimentação das torneiras dos banheiros e da cozinha estavam desativados para reduzir os níveis de umidade e proteção da alvenaria, tecido e madeira.
Segundo a arquiteta e então diretora do Museu de Arte da Pampulha e da Casa Kubitschek , Tereza Bruzzi, o maior desafio das obras era recuperar os traços originais do projeto paisagístico dos jardins de Burle Marx, que estavam consumidos pela vegetação selvagem que crescera de forma descontrolada. Além da restauração, de acordo com o projeto de adaptação da casa em museu, a piscina teria sua “profundidade reduzida em pelo menos 80% para se transformar em espelho d’água, ao lado do café a ser instalado na antiga casa dos funcionários da mansão”.
Finalização da restauração
Em fevereiro de 2013, a equipe do Museu de Arte da Pampulha e do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB), estava realizando o processo de conceituação doa Casa Kubitschek. O término da restauração dos móveis e da recuperação do projeto original dos jardins de Burle Marx estava previsto para ser iniciado ainda em fevereiro, e a inauguração para junho de 2013.
Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1994, e reconhecida como patrimônio municipal pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH) em 2003, após inaugurada a Casa Kubitschek ficará sob a administração do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB).