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Depoimentos

Enviado por museu em 28/04/2015 14:50:00 ( 4335 leituras )
Meu nome é Maria Célia de Paula Braga, mas artisticamente sou conhecida como Celinha Braga. Nasci em Belo Horizonte, mas vivi a minha infância no interior de Minas Gerais, nas cidades de Bocaiúva, Montes Claros e Oliveira. Meu pai, como funcionário do Banco do Brasil, era sempre transferido, por isso tantas mudanças. Quando eu tinha 11 anos a minha família voltou para Belo Horizonte e foi morar no bairro do Santo Agostinho. Sou de uma família grande, com seis filhos. Quando eu me casei, em 1985, me mudei para Pampulha e desde então moro aqui. Tenho duas filhas, uma que é casada e não mora mais na Pampulha e a outra que ainda mora comigo. As duas amam a Pampulha, assim como eu. 
Quando me mudei para Pampulha, estranhei um pouco, a região era muito calma e deserta. Por outro lado, gostei, pois aqui havia um clima diferente, parecido com o clima de praia. As pessoas eram mais soltas, até hoje é assim. A Pampulha tem um pouco de levantar de manhã e não ter muita preocupação se você não está muito bem arrumada. O olhar aqui é mais aberto, tem uma visão bonita. Eu adoro acordar e olhar para a Lagoa. Eu acho que a gente tem uma visão bonita, sempre que você passa é bonito e isso é bom para começar o dia. 
Até hoje a Pampulha é mais tranquila em comparação aos outros bairros. Em termos de trânsito, é difícil às vezes chegar no bairro, mas o trânsito  na região é bom. Eu não pego trânsito aqui, eu moro e trabalho na Pampulha e não vivo o stress do trânsito. A minha vida toda funciona aqui e sinto falta na região de uma infraestrutura melhor. Os bons restaurantes que abrem aqui logo fecham. A gente também não tem um supermercado com artigos melhores. Outra coisa que eu acho que precisa melhorar é a oferta e a participação dos moradores em eventos culturais. Grande parte das pessoas que moram aqui, vivem em casas enormes, fechadas, com muro alto e quando elas vêm do trabalho sexta-feira elas querem aproveitar a casa, que tem piscina, churrasqueira, sala de TV, etc. Então as pessoas na Pampulha têm um pouco de preguiça da cultura, elas não têm muito o hábito de consumir a cultura. Eu sei por que eu tenho uma escola de música chamada Oficina de Música e lá acontecem vários shows e é difícil trazer o público da Pampulha. 
Além de realizar shows na minha escola, também procuro fazer eventos nas praças da Pampulha. Há dois anos eu criei um bloco de carnaval chamado “Atrás do Jacaré”, que é um bloco de marchinhas de carnaval. Este ano, participaram cerca de 350 pessoas, mas o apoio é muito pequeno. Consegui autorização da Belotur para sair com o bloco, mas não veio um policial. Tivemos que andar no entorno da Lagoa da Pampulha no meio dos carros e havia cadeirantes, idosos e crianças.
Celinha no bloco "Atrás do Jacaré" 
Aqui na Pampulha não se valoriza muito a cultura, temos aqui um único teatro, o Museu da Pampulha que abre para shows uma vez no mês no projeto domingo no museu e acho que uma quarta no mês. Já fiz eventos no Museu há um tempo, mas hoje não tem condição porque é caríssimo para alugar o teatro.
Acho que hoje a Pampulha se empenha muito mais em valorizar o esporte e deixa a cultura um pouco de lado. Para o esporte a infraestrutura é boa, mas para a cultura não. 
A Pampulha é linda, é um cartão postal e está crescendo devido a criação da Cidade Administrativa. As pessoas que trabalham na Cidade Administrativa estão preferindo morar aqui a atravessar a cidade inteira. Então a Pampulha está recebendo um público jovem, o que é muito bom. A Pampulha ficou antiga e precisa se modernizar. Esse público mais jovem talvez modifique esse olhar.
 
O trabalho na Pampulha 
Eu sempre fui cantora, estudei canto, trabalhei por dez anos em uma escola que é muito conhecida, a Babaia, lá no Santo Antônio. Mas muitas pessoas que moravam na Pampulha, que sabiam que eu dava aula, começaram a me procurar para dar aulas particulares aqui, para não ter que atravessar a cidade. Como eu morava aqui eu comecei a dar aula primeiro dentro da minha casa, em uma sala, depois foi crescendo. Saí da Babaia e fiquei só por aqui e já tem quinze anos que eu tenho a minha escola aqui na Pampulha. Antes eu trabalhava só com canto para adultos, depois foi expandindo. Foram chegando os professores, outros cursos, as crianças e os idosos. Hoje oferecemos cursos para todas as idades de canto, vilão, guitarra, contrabaixo, viola caipira, gaita, flauta, piano, teclado, bateria e percussão. 
Na escola temos grupos maravilhosos, como por exemplo, o Grupo Cabaré, formado por doze mulheres na faixa etária de 60 a 78 anos. Elas não são cantoras profissionais e vieram estudar canto na escola. Resolvi formar o grupo e fazer um show de uma noite de cabaré. Foi um sucesso! Agora estou fazendo um projeto de lei para outras pessoas viverem esse momento de cabaré, de tão lindo que é. O Grupo Cabaré já se apresentou em vários lugares. Na CEMIG Saúde compraram o show e elas foram falar para mulheres da mesma faixa etária como é possível fazer coisas gostosas e até ser sensual. Agora estou trabalhando, com as mulheres do Grupo Cabaré, uma oficina para que elas possam levar isso, que foi muito legal, para outras mulheres. 
Além do trabalho na escola, também realizo um musical chamado Formosas, junto com a Babaia e a minha irmã Lu. É um show lindo de sambas antigos dirigido pela cantora Marina Machado. O show foi feito despretensiosamente para a gente celebrar a nossa amizade. Fizemos o show só com músicas que falam de coisa boa, de alegria e de amizade. O repertório é todo de samba, mas tem esse contexto da parceria, da amizade, de estar junto. O nome “Formosas” veio porque essa é uma forma de ser bonita, não porque nós somos formosas. Uma das minhas filhas, que é designer, fez um figurino lindo e um cenário maravilhoso para o show, que merecia estar no Museu da Pampulha. É um show de muita qualidade, que traz coisas que as pessoas estão precisando ouvir.
Grupo Formosas - Da esquerda para direita: Lu, Babaia e Celinha
 
A Pampulha nos tempos de menina
A recordação que tenho da Pampulha dos meus tempos de criança era de quando a minha família vinha para Belo Horizonte. Meu pai sempre trazia a gente para passear na Lagoa, para ir ao clube da ABB, que era dos funcionários do Banco do Brasil, e para ir ao zoológico. Eu adorava ir à Pampulha, meu pai gostava de fazer caminhada e a gente vinha para fazer piquenique. Também íamos ao Parque Guanabara e comíamos um salsichão que era famoso na época. 
Até hoje eu gosto de fazer caminhada na Lagoa e faço isso com frequência. Às vezes levo meus sobrinhos também. Eu adoro a Pampulha e não pretendo sair daqui. 

Depoimento cedido em 08 de março de 2013.   
Arquivos anexados: clb_031_400.jpg 
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