Meu nome é Renato Cardoso Mesquita, nasci em Belo Horizonte, no dia 16 de novembro de 1959. Sou o quinto filho de Julieta Cardoso Mesquita e Marcos Mesquita, ao todo somos oito irmãos. Sou formado em Engenharia Elétrica e professor da UFMG, no Departamento de Engenharia Elétrica.
Quando eu era criança, me lembro de vir na Lagoa da Pampulha com toda a minha família para ir ao clube Iate. O papai trazia a gente porque o meu tio, o tio Antônio, era sócio, então ele conseguia convite e a gente vinha. Na época tinha lancha, inclusive, o Iate tinha um lugar que a turma parava a lancha e ia andar de lancha na lagoa. Era chique!
Na minha juventude, voltei a frequentar a Pampulha, pois fui estudar na UFMG. Na época eu morava na Serra e vinha para o campus de ônibus. Em 1983, passei no concurso para professor na UFMG e trabalhava na Escola de Engenharia no Centro da cidade. Na década de 90, o Departamento de Engenharia Elétrica veio para o campus e em 2000 eu decidi me mudar para Pampulha. Eu morava no bairro Santa Efigênia e todo dia pegava o trânsito da Avenida Antônio Carlos. Primeiramente eu vinha de moto, depois eu comprei um carro. A Antônio Carlos, antes dessas reformas que fizeram, era muito estreita e para tentar aumentar o número de pistas eles pegaram um pedacinho do passeio e diminuíram a largura das pistas. Então você tinha que dirigir com um cuidado danado, porque se não você batia no carro que estava ao lado. A Antônio Carlos só era duplicada do Viaduto São Francisco para frente, até a barragem, então eu não pegava o trecho duplicado. A vantagem que eu tinha de morar na região central e trabalhar na Pampulha é que o movimento maior é ao contrário. Ou seja, de manhã tem muito mais gente indo para o Centro do que vindo, e de tarde indo do que voltando. Então, o trânsito não era tão ruim, eu via que o pessoal estava sempre engarrafado do outro lado. Isso, inclusive, é uma das coisas ruins aqui, para você sair do bairro de manhã é muito complicado!
Eu gosto muito da Pampulha, é um bairro que às vezes você até esquece que está em Belo Horizonte. É meio independente, você tem praticamente tudo aqui. Só algumas opções de lazer que são bem do Centro de Belo Horizonte. Por exemplo, se você quer ir ver uma peça que vem para Belo Horizonte, aí você tem que ir no Centro, mas fora isso, quase tudo tem aqui também. Às vezes tem muita coisa que acontece só aqui, que não passa em outros lugares. Na própria UFMG tem muita coisa, tem os parques também, Parque Ecológico e a Lagoa do Nado, por exemplo. Além do Centro Cultural, onde sempre acontecem eventos. Então, tem muita coisa que acontece só aqui.
Tenho o hábito de andar de bicicleta e gosto muito de passear na Lagoa da Pampulha. Adoraria que ela fosse limpinha e cheirosinha! Mas em relação à época em que eu me mudei para cá, ela melhorou demais. Quando me mudei, ainda não tinha aquelas estações de tratamento de esgoto que fizeram e ela fedia horrores! Hoje também dependendo da época, ela fica mais fedorenta. No verão ela tem um cheiro melhor, porque chove mais, então a água se renova mais rapidamente. O engraçado é que na época da chuva ela fica mais suja, porque eu acho que como chove muito, vem muita água e as estações de tratamento não dão conta. Aí sempre tem uns homens em uns barquinhos, que são funcionários da prefeitura, que ficam recolhendo lixos e aguapés. Afinal, uns anos atrás a lagoa ficou completamente verde de aguapé, mas agora não. Na época fizeram uma grande operação para retirar os aguapés. Fizeram várias coisas ao mesmo tempo. Eles chegaram a esvaziar a lagoa para dragar, para tirar um bocado de terra ali de dentro, então você via até trator dentro da lagoa. E nessa mesma época, tiraram tudo quanto era aguapé.
Como eu moro relativamente perto da UFMG, prefiro ir trabalhar a pé ou de bicicleta. Antes eu ia de carro e pegava muito trânsito. Eu ficava pensando: “estou gastando um tempo de carro”, especialmente quando saía no horário que está todo mundo saindo. Às vezes demorava de 30 a 40 minutos. A pé eu gasto 50 minutos, de bicicleta eu gasto menos de meia hora. Geralmente, quando estou de bicicleta, só vou passando na frente dos carros. Os carros parados na saída do bairro e eu passando. Quando vou a pé o meu trajeto é o seguinte: vou para a lagoa, vou beirando a lagoa, passo pela barragem, que é um trecho meio ruim, mas tem um passeiozinho para pedestre, e depois pego por dentro do bairro, não vou acompanhando a Antônio Carlos, não. Então eu já entro na UFMG lá em cima, na entrada da FUNDEP, quase chegando ao Mineirão. É um trajeto tranquilo. Quando vou de bicicleta, só tem um problema, que é a barragem. A barragem foi pensada para carro, e ela tem um problema que é o seguinte, de um lado está a lagoa, do outro lado está o aeroporto, e a barragem é a única via que une duas regiões muito populosas de Belo Horizonte, então todo mundo tem que passar pela barragem, ou então tem que dar a volta na lagoa, 18 quilômetros, ou a volta no aeroporto. A volta no aeroporto significa ir à Cristiano Machado e conseguir voltar. Então, por exemplo, se der um problema ali na barragem, um carro estragar, o trânsito para todo. Além disso, a barragem tem mais um problema, por causa do aeroporto, é proibido colocar iluminação na barragem. Então, por exemplo, quando eu vou de bicicleta e vou voltar à noite, eu passo na escuridão. Então só tem aquele pedacinho de passeio. Todo mundo que está a pé tem que passar por lá ou então dar a volta na lagoa ou no aeroporto, é bastante complicado para o pedestre. Às vezes eu prefiro dar a volta na lagoa, de bicicleta, até bom que eu faço um pouco mais de exercício, do que enfrentar a barragem que são uns 400 metros.
Durante a semana eu não saio da Pampulha, a minha vida toda está aqui. Apenas nos finais de semana que vou para zona sul visitar a família, mas tem muito final de semana que não vou e fico por aqui. Aqui tem muitas opções de lazer, a principal delas é a lagoa. É um espaço ao ar livre, acho que tem poucos espaços assim em Belo Horizonte. E você vê que o pessoal adotou o espaço. Então, fim de semana fica cheio de gente andando de bicicleta, correndo, andando de patins ou só passeando pela beira da lagoa, é bem legal. Eu gosto muito também do parque da Lagoa do Nado, que não é muito longe. O parque era uma antiga fazenda que tinha uma lagoa dentro, é um espaço bem legal e preservado. Lá sempre tem shows bacanas e tem um centro cultural também.
Em relação a serviços, aqui existem muitas opções. Restaurantes, por exemplo, tem para todos os gostos. A Avenida Guarapari se especializou em restaurantes, lá tem restaurante japonês, vegetariano, churrascaria, são várias opções. Mas aqui, o que faz mais sucesso é churrascaria e bar. Lá existia uma churrascaria muito tradicional que se chamava Três Meninas. O dono era conhecido por “Baiano” e o nome foi dado por causa das três filhas dele, que inclusive trabalhavam lá. Em uma ocasião, o baiano sumiu e vendeu a churrascaria. Um tempo depois ele voltou e abriu outro restaurante que se tornou um sucesso, em seguida ele vendeu. Atualmente ele cria restaurantes e depois vende. Hoje ele é dono do restaurante Baianinho, que também fica na Avenida Guarapari.
Aqui na Pampulha tem muitos bons restaurantes. Até recentemente tinha um excelente, chamado Bistrô des Amis, que fechou, pois o chef faleceu. Era um restaurante pequeno, lá trabalhava só o chef e a sua esposa, que ficava atendendo, acho que tinha umas 10 mesas, no máximo.
Duas coisas que eu gosto muito são trabalhar no computador e fazer exercícios físicos. Gosto de correr e andar de bicicleta. Participo de um grupo de corrida que foi criado há uns dez anos, chamado “Os Jacus”, que todo sábado corre na Lagoa da Pampulha. Atualmente, não estou correndo, pois tive um problema na coluna, mas já fiz cinco maratonas junto com o grupo. A gente já correu em Paris, no Rio de Janeiro, em Florianópolis, em Porto Alegre e também em Belo Horizonte. O grupo sempre participa da volta da Pampulha e da meia maratona de Belo Horizonte. Temos até uniforme, é tudo muito organizado. As pessoas vêm de vários bairros para correr aqui na Lagoa no sábado de manhã.
Grupo de corrida: "Os Jacus"
Com a criação da Cidade Administrativa, os imóveis na Pampulha se valorizaram muito. Antigamente, um imóvel aqui era muito mais barato do que na zona sul. Hoje não, os preços são bem equivalentes. Mas, na minha opinião, esse crescimento deve ser controlado e a verticalização é um processo que não deve ocorrer. A Pampulha tem uma arquitetura que precisa ser preservada. Além disso, a região não pode perder as áreas verdes. Os lotes aqui são grandes e pouco ocupados com construções, por isso possuem muitas árvores. Aqui, tem hora que parece que você está na roça, de vez em quando aparecem até morcegos. Existem também muitos pássaros por aqui, na Lagoa tem uma grande diversidade de aves. Então você vê muita gente com binóculo na beira da lagoa, os observadores de pássaros. Morar aqui é muito bom.