“Uma vez escoteiro, sempre escoteiro”. A famosa frase entoada pelos membros do escotismo, assim como o movimento, é conhecida mundialmente. A adoção da prática escotista em diversos países foi impulsionada pela publicação do livro “Scouting for Boys” (Escotismo para rapazes), escrito em 1908, pelo general inglês Lord Robert Stephenson Smyth Baden-Powell - popularmente conhecido como B-P.
Na publicação, utilizando-se dos conhecimentos adquiridos na carreira militar, o general reuniu orientações para sobrevivência na selva, e buscou promover a educação por meio da exaltação dos valores éticos e morais, do altruísmo e do trabalho.
Apesar de o livro ser direcionado para rapazes, a prática escotista conta com a participação de mulheres desde sua criação. Denominadas ‘bandeirantes’, no escotismo, as mulheres executam as mesmas atividades exercidas pelos homens, sem diferenciação de gênero.
No Brasil, o movimento escotista chegou por volta de 1910, iniciativa de membros do exercito brasileiro que estavam na Inglaterra e, ao retornarem à pátria, trouxeram consigo uniformes de escoteiro e o ideal de disseminar o movimento no país.
O grupo dos escoteiros do Jardim Montanhês foi fundado pelo Padre Henrique em junho de 1968. “Eu tinha 11 anos e, logo que começou, entrei. Eu já tinha contato com o Padre Henrique. Conheci-o em maio e, logo depois, apareceu o convite para começar essa experiência” conta José Gabriel Ferreira FIlho. Em julho, foi feito o primeiro acampamento, no Engenho Nogueira, que, na época, era completamente isolado da cidade. O grupo começou com duas patrulhas de oito integrantes cada; Patrulha Leão e Patrulha Águia. A idade dos participantes ia dos 11 aos 15 anos. Depois, formaram mais quatro patrulhas de escoteiros júnior. Em seguida, foi formada uma alcateia, de sete a onze anos. Mais tarde, formaram-se grupos de escoteiros sênior, de 15 a 18 anos. Logo depois, foi formada uma terceira patrulha, a Lobo. O número de registro desse grupo era 23, e passaram por ele mais de cem pessoas. Anos depois, em 1977, o Padre Henrique se mudou para Goiás e, depois, para o interior de São Paulo, mas o grupo continuou por muitos anos. Atualmente o grupo não existe mais.
As reuniões eram semanais e aconteciam aos sábados, à tarde. Foi construída uma sede dentro do terreno da igreja, e essas reuniões eram constantes. Havia também a prestação de serviços na Grota, uma favela, que, hoje, é o bairro São José. Os escoteiros recolhiam roupas, no inverno, bem como mantimentos. Alguns que tinham uma queda para enfermagem prestavam esse tipo de serviço, como aplicar injeção. Houve também outro trabalho importante ligado aos escoteiros, durante três ou quatro anos, que foi trabalhar na ala feminina da Febem do barreiro, a chamada “Casa das Meninas”. Aos domingos eles iam para lá e desenvolviam atividades com as internas: jogos de vôlei, peteca, teatro, dentre outras.
Existem, no escotismo, algumas coisas em que o escoteiro se especializa, são as chamadas “especialidades.” Por exemplo: é possível se especializar como músico, enfermeiro, sapateiro, ciclista ou mensageiro, de acordo com o gosto ou as habilidades. Há uma serie de critérios e provas que é preciso fazer. Ao ser aprovado, o escoteiro recebe um distintivo no uniforme designando a sua especialidade. No grupo do Jardim Montanhês tinha gente com várias especialidades, por exemplo: nadador, bombeiro, e fotógrafo.
Durante o acampamento haviam tarefas cotidianas: um era o cozinheiro; outro, o responsável pela água; outro, pela limpeza e essas tarefas não tinham nada a ver com as especialidades.
Os escoteiros faziam vários acampamentos, mas sempre perto do bairro, até porque, na época, também perto se encontrava muito mato. Eles acampavam na mata do Alípio de Melo, em Pedro Leopoldo, Lagoa Santa, Nova Lima e Rio Acima.
Em sua maioria, os grupos de escoteiros eram fortemente influenciados pelo militarismo. Já o grupo do Jardim Montanhês, por ser comandado pelo Padre Henrique, não tinha esse caráter militarista, como outros grupos de Belo Horizonte. Havia disciplina, mas com certa liberdade.
Aos acampamentos dos escoteiros júnior, sempre ia um acompanhante. Havia uma obrigação legal: era preciso haver adultos presentes, o padre e mais alguém, muitas vezes um dos pais dos escoteiros. Aconteciam encontros entre os pais, em algumas festas. Na data de aniversário do grupo era feita uma festa no salão paroquial, onde se projetavam os slides das atividades do ano, com apresentação de músicas e de teatro. Havia também uma comissão executiva, composta de cinco pais que comandavam a parte financeira e operacional do grupo, que se reuniam com mais frequência.