Propondo um novo caminho
Em 1973, surgia na França a Comunidade Chemin Neuf (Caminho Novo), uma comunidade católica de vocação ecumênica, proveniente de um pequeno grupo de oração no início da Renovação Carismática Católica naquele país. Alguns jovens, entre eles um sacerdote jesuíta, Padre Laurent Fabre, reuniram-se com o desejo de viver o Evangelho, a Palavra de Deus, e trabalhar para a evangelização. No início, integravam a Comunidade apenas sete jovens, homens e mulheres solteiros. Posteriormente, começaram a participar casais, e o número de pessoas aumentou significativamente. Da França, a Comunidade foi ganhando novos rumos e, atua em 55 países em todos os continentes.
A espiritualidade da Comunidade tem dois pés: um carismático e o outro jesuíta. Ela faz retiros espirituais e anima os exercícios de Santo Ignácio de Loyola. Unindo diversas confissões cristãs, a Comunidade do Chemin Neuf reúne casais, famílias, sacerdotes, celibatários consagrados, homens e mulheres. A proposta é trabalhar sobretudo pela evangelização na formação das famílias e dos jovens, tendo como alicerce o ecumenismo, que significa a unidade dos cristãos.
São numerosas as famílias de Igrejas Cristãs no mundo. As mais importantes são a Católica Romana, a Anglicana, iniciada na Inglaterra, a Evangélicas; a Protestantes e a Ortodoxas. Apesar de cada uma ter a sua doutrina e tradição própria, elas possuem pontos essenciais em comum, como a crença em Jesus Cristo, na ressurreição, na fé no Deus Trindade e, também, na Palavra de Deus, a Bíblia.
Caminho Novo
O nome Chemin Neuf surgiu por acaso: o grupo precisava de um nome para receber as correspondências e, como se encontravam na rua Chemin Neuf, na França, colocaram provisoriamente esse nome. No entanto, ele acabou se tornando o nome oficial e, muito mais que o nome de uma rua, Chemin Neuf traz em sua essência muito da espiritualidade da Comunidade: mostrar um caminho de diálogo entre as Igrejas e também um caminho novo na Igreja Católica, na vivência juntos da vida comunitária, de conversão e de amor a Jesus. "É um trabalho de aceitação, perdão e reconciliação. Temos que aprender a amar a nossa própria Igreja (Católica, Evangélica ou Ortodoxa) e a amar e respeitar a Igreja do outro", conta Béatrice Bourrat, Celibatária Consagrada, membro da comunidade Chemin Neuf, atuante na Paróquia de Santa Margarida Maria Alacóque, do Jardim Montanhês.
Tomando novos rumos
A África foi o primeiro lugar que recebeu a comunidade, após ela ter extrapolado os limites da França, há 21 anos. Um Bispo africano, que era amigo do fundador da Comunidade Chemin Neuf, pediu a ele auxílio, pois teria que assumir uma nova Diocese. Alguns membros da Comunidade, então, passaram a morar com ele na Mitra onde ele iria atuar, ajudando no trabalho da Diocese. Ao mesmo tempo, num outro povoado, a Comunidade foi encarregada de cuidar de um centro de saúde e construiu um Centro de Formação Cristã para leigos: um lugar de encontro e de unidade entre pessoas de várias tribos. Depois desse primeiro contato fora da França, a comunidade se espalhou para vários outros países, incluindo o Brasil.
O convite para que a comunidade viesse ao Brasil aconteceu, quando Padre Laurent Fabre encontrou-se com o Cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo, em Roma. Ao saber dos trabalhos do Chemin Neuf, Dom Serafim falou sobre sua satisfação de recebê-lo para uma visita à sua Arquidiocese. Em maio de 1998, Padre Laurent Fabre chegou a Belo Horizonte para uma visita, e Dom Serafim ofereceu-lhe um trabalho na paróquia de Santa Maria Margarida Alacóque. Esta havia sido fundada pelos padres dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, há mais de 30 anos. Na ocasião da visita, tais padres haviam reduzido sua área de atuação e entregaram a paróquia do Jardim Montanhês aos cuidados de Dom Serafim. Como a paróquia estava em busca de um sacerdote e, na comunidade Chemin Neuf, havia um sacerdote chamado Padre Sérgio que gostava muito do Brasil, resolveram aceitar a oferta, chegando ao Jardim Montanhês, em dezembro de 1998.
Padre Sérgio era francês e havia trabalhado por dois anos na África. Com ele, veio uma família do Nordeste: Fernando e Edilene, com seus filhos. Era um casal missionário, membro da comunidade. Posteriormente, chegou outro casal da França, Henri e Marie-Thérèse. Para ajudar o Padre Sérgio, veio Padre Philippe. Ele é de origem suíça e membro da Congregação, que, há mais de 20 anos, havia experimentado a vida no Brasil como missionário e, depois disso, tinha grande desejo de retornar ao país. É ele quem é o pároco. Padre Sérgio, após cumprir seu mandato de seis anos, voltou à França e, posteriormente, viajou de novo como missionário para a África.
A vida em comunidade
Muitos casais ou solteiros abraçam a causa da comunidade Chemin Neuf e tornam-se membros. Antes, porém, é preciso que eles façam um ano de formação.
Após terem passado por esse ano de "Postulado", os interessados em ingressarem na comunidade fazem o "Noviciado", onde ficam dois anos como noviços. Nessa fase, eles conhecem as "constituições", que são as regras de base da vida da comunidade. O ano de entrada no "Postulado" é chamado "Belém". O segundo e terceiro ano, "Nazaré".
Algumas vezes, essa formação é feita na França. Foi o que aconteceu com Fernando e Edilene, antes de eles chegarem ao Jardim Montanhês. No bairro, eles moraram na casa paroquial com outros membros da Comunidade por quatro anos, até adquirirem seu próprio apartamento, em Belo Horizonte, o que permite que eles continuem atuando junto à comunidade do bairro Jardim Montanhês.
A Comunidade Chemin Neuf é aberta àqueles que quiserem conhecer um pouco mais sobre a Congregação e descobrir a vida comunitária. Para tanto, é preciso sentir o "chamado". "Se Deus chama, a pessoa vai conseguir caminhar. A questão é, durante a primeira etapa de conhecimento mútuo, descobrir se essa pessoa ou família tem o chamado de Deus para esse tipo de vida, de missão", explica Béatrice.
Mesmo não tendo feito a formação de "Postulado", vários casais e pessoas participam da comunidade. Eles não moram em conjunto com demais membros, mas estão sempre próximos, participando de Grupos de Oração e de outras atividades dentro da igreja. "Quando as pessoas se engajam, o Senhor confirma: é minha alegria, minha abertura, estou crescendo na minha alma, na minha família, o meu casal está crescendo no amor de Deus, no desejo de trabalhar para a Igreja", ressalta Béatrice.
Algumas missões da Comunidade Chemin Neuf em Belo Horizonte
Caná : uma formação para os casais e para as famílias
Para os casais, há o "Encontro de Caná", que é um momento de retiro espiritual de quatro ou cinco dias, com o objetivo de despertar o casal para uma vida de oração, de diálogo, de perdão e de missão para outros casais e famílias. Quem anima os encontros são também casais, que mostram, entre outras coisas, como crescer no respeito ao homem e à mulher, e que o amor é mais felicidade que sofrimento, ao estar junto e partilhar isso um com o outro.
O curso Alfa
É um curso de evangelização de dez noites, durante dez semanas. A cada dia, há um jantar, uma conferência e um grupo de partilha. Esse curso de proclamação da fé é ecumênico e conta com uma linguagem moderna que toca os corações em busca de uma mensagem de esperança pelo mundo de hoje. O Padre Philippe é o delegado católico do curso Alfa no Brasil. Hoje, há no mundo mais de 30.000 cursos Alfa, em 153 países, dos quais participaram mais de 6 milhões de pessoas.
A Fraternidade Ecumênica Internacional
Trata-se de uma rede de pessoas e de jovens que trabalham pela unidade, pela paz e pela reconciliação, com a força do testemunho, formando-se mensalmente com fitas de espiritualidade elaboradas por Padre Laurent Fabre.
Organização da Igreja
Atualmente, na Igreja Santa Maria Margarida Alacoque existem todas as pastorais que podem ser encontradas em qualquer outra paróquia. A ideia é partilhar o trabalho em equipe, entre os membros da Comunidade Chemin Neuf e as pessoas mais engajadas na vida paroquial.
Para tanto, a Paróquia está dividida em quatro setores: Matriz, Sagrados Corações, Asilo Carmelo e Capela Maria Salomé. Cada um deles é administrado por um pequeno conselho. Os membros desses conselhos se reúnem localmente, para discutirem o trabalho no lugar e, regularmente, há uma reunião com todos os setores, além de uma Missa comum no último domingo do mês, o "Domingo da Unidade", da qual participam todos eles.
Durante a semana, várias atividades são realizadas na Paróquia. Apenas nas segundas-feiras é que não há atividade, pois é um dia reservado ao silêncio e à oração para os membros da Comunidade Chemin Neuf.
Há diversos setores pastorais atuantes na Paróquia: Pastoral Sacramental, Pastoral de Liturgia, Pastoral da Saúde, Pastoral do Menor, Pastoral do Dízimo etc. Com os jovens, há um verdadeiro trabalho de evangelização: duas bandas foram formadas, um grupo de teatro e um ministério da dança. Há, também, um grupo vicentino, que ajuda no Asilo Carmelo; movimentos sociais, como o Alcoólicos Anônimos; movimento "Fome - responsabilidade de todos", entre outros. "É uma Igreja que está sempre em movimento, é sempre nova, e, por isso, estamos aproveitando o fruto de trabalhos anteriores, feito por pessoas que chegaram antes de nós. Apenas colocamos coisas novas e o resultado acaba de nascer, de se consumar", comenta Béatrice. Há, também, muitas atividades sociais ligadas à Associação Social Santa Margarida Maria, ASOMAR, por exemplo, o trabalho contra a miséria e a fome, o acompanhamento de jovens da Vila São José etc.
Proximidade com jovens
Além de um grupo de teatro, duas bandas e um ministério da dança, os jovens do bairro também participam do grupo de Acólitos, onde desenvolvem atividades litúrgicas e se envolvem com causas sociais, como a Pastoral do Menor. Em 2000, três jovens da Paróquia participaram da Jornada Mundial dos Jovens, que reúne milhões de jovens do mundo inteiro para um encontro com o Papa, em Roma e, em agosto de 2005, cinco jovens participaram de encontro na Alemanha e encontraram o Papa Bento XVI.
Em 2005, cerca de 80 jovens atuaram na Paróquia, no grupo de Crisma, o que faz com que a Igreja seja bem viva, cheia de dinamismo. Para incentivar ainda mais a participação dos jovens, pretende-se criar um ponto de encontro em um dos lugares de atuação da Paróquia, uma espécie de "barzinho", onde eles possam se encontrar, cantar e vivenciar o Evangelho.
Acolhida
"Estou no bairro há dois anos e minhas primeiras experiências aconteceram quando fui às compras. Não conhecia o nome das ruas, não falava nada de português, mas o pessoal foi muito simpático, me ajudou, me explicou tudo. Eles tiveram muita paciência, muita compaixão e me ensinaram muita coisa. Demorou um ano e meio para eu me inculturar. Eu já havia atravessado vários continentes, vivido em sete países, aprendido línguas diferentes e, toda vez que saía de um lugar, tinha que passar por um ano de inculturação. Aqui no Brasil, tive que vivenciar tudo isso de novo, o que me fez dar um passo à frente, de conversão, de simplificação, de aceitação, de ampliar a cultura evangélica. De novo, houve um tipo de morte à minhas referências europeias, de cultura francesa, entre outros. Para mim, não foi um choque cultural, mas um desafio cultural, que me ajudou mais ainda a crer no chamado de Jesus, nessa cultura da caridade, do respeito mútuo, do perdão, da conciliação e da unidade dos povos.” Béatrice Bourrat.