Os passos de Padre EustáquioHumberto Van Lieshout, que mais tarde seria conhecido como o Venerável Padre Eustáquio, nasceu no dia 3 de novembro, de 1890, em Aarle Rixtel, na Holanda. Passou o final de sua vida no bairro Celeste Império, vizinho ao Jardim Montanhês, celebrando Missas na capela Cristo Rei, única igreja existente nas proximidades dos bairros Celeste Império, Villa Minas Gerais e Progresso (atual bairro Padre Eustáquio). Andava por toda a região, atendendo pessoas e resumindo sua missão em duas palavras: "Saúde e paz", numa atitude de fé e amor ao próximo.
Padre Eustáquio faleceu no Sanatório Minas Gerais, atual hospital Alberto Cavalcanti, também naquele bairro, onde estão preservados os móveis da época de seu falecimento. Tornou-se símbolo da fé religiosa, ao longo de sua atuação, promovendo curas e distribuindo bênçãos pelos vários lugares por onde passou. Após sua morte, foi atribuído a ele a graça da cura de um câncer em um de seus devotos, entre outros milagres.
Conheça sua história
Em 10 de dezembro de 1913, Padre Eustáquio iniciou o noviciado canônico, em Tremelo, na Bélgica. Fez votos temporários de pobreza, castidade e obediência como religioso da Congregação dos Sagrados Corações, no dia 27 de janeiro de 1915, tendo feito os votos perpétuos três anos mais tarde. A 10 de agosto de 1919, após cursar filosofia e teologia em seminários da Congregação, foi ordenado sacerdote por Dom Henrique Hopmans, bispo da diocese holandesa de Breda. Desse ano até agosto de 1924, trabalhou como auxiliar do mestre de noviços, vigário paroquial em Roelofarendsveen, tendo exercido, em 1920, o ministério sacerdotal em Maassluis, nas proximidades de Roterdam, cuidando de grande comunidade de famílias belgas que, em 1914, tiveram que deixar sua pátria, por causa da invasão alemã.
Em agosto de 1924, por ordem dos superiores, chegou à comunidade da Congregação em Miranda de Ebro, na Espanha, a fim de aprender a língua espanhola, pois fora nomeado missionário na América do Sul, justamente com os padres Gil van den Boorgart e Matias van Rooy. Em 22 de abril do ano seguinte, os três deixaram o porto de Amsterdam com destino ao Rio de Janeiro.
Padre Eustáquio costumava dizer que Deus o queria no Brasil, porque depois de ter se esforçado muito para aprender e entender um pouco de espanhol, acabou chegando neste país, único sul-americano de língua portuguesa. No dia 15 de julho de 1925, Padre Eustáquio e seus irmãos de Congregação chegaram em Romaria, no Triângulo Mineiro, onde assumiram a pastoral do santuário episcopal e da paróquia de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja e das paróquias de São Miguel de Nova Ponte e Santana de Indianópolis, todas na Arquidiocese de Uberaba. A Padre Eustáquio, coube a função de vigário paroquial com prioridade de serviços de atendimento às comunidades da sede paroquial de Nova Ponte e de todas as suas capelas.
Em 26 de março de 1926, tornou-se reitor do Santuário de Nossa Senhora da Abadia, pároco das três paróquias citadas e da paróquia de Iraí de Minas e assumiu, também, as responsabilidades de conselheiro da Congregação dos Sagrados Corações no Brasil.
Ao ministrar suas orientações pessoais - ações curativas de enfermidades físicas - Padre Eustáquio falava da disposição de Deus em curar as pessoas integralmente e, sempre que possível, indicava medicamentos naturais de aquisição fácil e uso seguro. Para tanto, seguia, com critério, as orientações medicamentais do "Manual de Medicina no Campo", um compêndio de medicina natural e de primeiros socorros que ele sempre carregava consigo, no bolso da batina ou com seus objetos religiosos, numa pequena valise de couro. Era comum vê-lo consultar o manual, após ter dado alguma bênção ou antes de fazer a indicação de algum medicamento. Com frequência, costumava-se vê-lo coletando folhas e raízes cujas serventias medicamentosas costumava testar em casa. Muitas pessoas que necessitavam de ajuda, na falta de farmacêutico ou médico, procuravam Padre Eustáquio.
De Romaria, foi transferido para Poá, em São Paulo, onde continuou seu trabalho, incentivando lideranças religiosas existentes. Também fazia bênçãos, entre elas a da água no reservatório e nas pias de água benta, à entrada da igreja. Com o passar do tempo, os fiéis começaram a levar para a igreja garrafas de água para serem bentas. Com a notícia de fatos referentes a bênçãos do Padre Eustáquio seguidas de curas, o aglomerado de pessoas começou a aumentar em Poá. Por causa do transtorno, foi enviado para Araguari e ficou um tempo em reclusão, mantendo comunicação por carta com outras pessoas, principalmente seu amigo Padre Gil.
A 12 de fevereiro de 1942, Padre Eustáquio regeu a paróquia de Ibiá, até ser transferido para Belo Horizonte - em 7 de abril do mesmo ano. Chegou na capital mineira sem alarde, já que era nacionalmente venerado como santo e taumaturgo. Porém, a despeito da discrição, logo nos primeiros dias muitas pessoas o procuraram pedindo bênçãos e curas, na capela Cristo Rei, no bairro Celeste Império. Diante do aglomerado de pessoas que esperavam por Padre Eustáquio, diariamente, Padre Hermegildo - que havia chegado para ajudá-lo em suas tarefas paroquiais - definiu o limite de cinquenta atendimentos por dia, mediante a apresentação de um cartão distribuído por ordem de chegada.
Como a capela Cristo Rei, matriz provisória, era muito distante do convento dos frades franciscanos, onde os padres dos Sagrados Corações se hospedavam, por praticidade, Padre Eustáquio alugou uma casa a apenas um quilômetro da capela.
Em 9 de setembro de 1942, o então prefeito da capital, Juscelino Kubitscheck, que se considerava beneficiado por milagre conseguido por intercessão do Padre Eustáquio, doou à paróquia um terreno onde foi construída a Igreja dos Sagrados Corações, cuja pedra fundamental foi abençoada por Dom Cabral. Nesse dia, após a cerimônia, Padre Eustáquio disse a alguns membros da Comissão Pró-Construção da Matriz: "Não verei o fim da guerra. Comecei a igreja, mas não a terminarei".
Em 1943, de 18 a 21 de agosto, durante retiro que pregava às alunas do Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Belo Horizonte, Padre Eustáquio demonstrou aparência abatida e cansaço. No dia seguinte, repousou em seu quarto, febril e trêmulo. Na manhã do dia 23, ainda febril e mais abatido, dirigiu-se à igreja, como fazia todos os dias, para rezar a missa. Ao final, dirigiu-se à sacristia, onde se sentou em um banco e desfaleceu. Os médicos Américo Souza Gomes, Olinto Orsini de Castro, Alfredo Balena e Otávio Coelho Magalhães o examinaram, mas não houve dúvida no diagnóstico: tifo exantemático, devido a uma picada de carrapato.
Padre Eustáquio permaneceu ali, rezando, embora dissesse que não sobreviveria. Recebeu o sacramento dos enfermos, mas chamava ansiosamente pelo amigo Padre Gil. Enquanto o aguardava, fez a renovação dos votos religiosos, pressentindo que a morte estava perto.
As freiras, os médicos e os enfermeiros emocionaram-se vendo seu olhar irradiar-se quando ele repetia cada palavra da seguinte fórmula que Padre Hermenegildo lhe ditava, com lentidão e clareza:
"Eu, Eustáquio, conforme as Constituições, Estatutos e Regras, renovo os meus votos de pobreza, castidade e obediência como irmão da Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, em cujo serviço quero viver e morrer. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Depois, a sós com seus dois confrades, disse em tom de alívio e de espera:
"Graças a Deus, estou pronto! Mas como demora o Padre Gil!"
No dia 30 de agosto, Padre Gil conseguiu chegar para ver o amigo. Vendo-o à porta, Padre Eustáquio, em esforço heroico, tentou erguer-se do leito. Com voz serena, disse-lhe: "Padre Gil, Graças a Deus!" e desfaleceu-se, derradeiramente. No dia seguinte, Belo Horizonte amanheceu de luto. A imprensa divulgava, incessantemente, notícias sobre seu falecimento.
Após sua morte, foi atribuído a ele a cura de um câncer de um devoto, constatada clinicamente e comprovada cientificamente. Esse relato consta no processo para sua beatificação, iniciado em 1997. Outros casos de curas e milagres também são relatados por várias pessoas.
Padre Eustáquio costumava dizer que sua vocação era "amar e fazer amar a Deus".