A princípio, o campo de aviação podia ser considerado uma área de acesso comum, inclusive, cruzando a pista de pouso e decolagem, via-se, frequentemente, pessoas que utilizavam o espaço como atalho natural. E, não muito longe da pista, havia um enorme gramado, onde passávamos a maior parte do tempo disponível correndo atrás de uma bola de futebol. Era também o nosso caminho diário para o Grupo Escolar Professor Moraes... quatro inesquecíveis anos (de 1955 a 1959).
As primeiras aeronaves, os famosos ‘teco-tecos’, também conhecidos como ‘paulistinhas’, com capacidade para um único passageiro e uma pequena bagagem, apesar da pouca autonomia, fazia algumas viagens dentro do estado de Minas Gerais, algumas com várias escalas. Meu falecido e saudoso pai chegou a utilizar esse precário serviço aéreo para atingir localidades nas quais ele era requisitado para consertos em geradores elétricos e motores a diesel.
Nos hangares, onde eram feitas as manutenções dos aviões, ficava a matéria-prima para dois geniais brinquedos da época: os rolimãs, para os carrinhos de guia e os patinetes. Com um pouco de sorte e muita insistência, conseguíamos algumas.
Nas extremidades do limite leste, havia grandes erosões, perigo constante totalmente ignorado por nós, pois era comum estarmos brincando - quase sempre munidos de bodoques para atirar pedras em calangos (uma espécie de lagarto) e nas corujas - por entre as fendas do que chamávamos de ‘barroca’. Estas podiam ter paredes de mais de dez metros de profundidade, em frágil terreno de aterro. Pouco depois, vieram os monomotores mais modernos e com maior capacidade, e também os pequenos bimotores, com maior raio de alcance. Também vieram a oficina do ‘Chamone’ e a ‘Aero-Sita’, táxi aéreo. Nessa época, começaram os shows de paraquedismo e os espetáculos da famosa ‘Esquadrilha da Fumaça’ (composta, então, por notáveis NA-T6). Eram manobras incríveis, num conjunto perfeito com rasantes de arrepiar.
Após alguns acidentes e a invasão de terrenos pertencentes ao campo de aviação, houve o isolamento total da área. Vieram, então, o Aeroclube de Minas Gerais e a Escola de Pilotagem. Chegou, também, a funcionar por lá um espaço chamado ‘pouso forçado’, que, devido a várias confusões, durou pouco tempo.
Hoje, há um projeto que acabará de vez com todo e qualquer movimento de aeronaves no local, já que o local será cedido para a construção de prédios públicos, que abrigarão todas as Secretarias de Estado do Governo de Minas Gerais. Haja o que houver, ninguém nem nada fará igual ou melhor do que sempre foi o campo de aviação. Os fantasmas, o encanto e a história ficarão para sempre neste local cheio de magia e de sonhos.
Francisco Lutkenhaus