Arrisco dizer que a área correspondia a quatro ou cinco lotes regulares de 360 m². No mesmo lugar, onde havia três nascentes de água, que vazavam para a horta do Sr. Manoel Português, havia também uma área gramada (onde as lavadeiras quaravam a roupa), dois trilhos distintos de acesso e, o restante, era composto por um mato ralo, onde prevaleciam os ‘assapeixes’ e as ‘marias-pretas’.
Alguns amigos e até parentes frequentavam o lugar para capturar os ‘coleirinhas’ e outros pássaros comuns na região. À noite, costumava aparecer por lá um cara apelidado de ‘Jia’. Ele e algum amigo pegavam com as mãos as ‘jias-pimenta’, para vendê-las ao proprietário do então ‘Restaurante Pedro Rocha’, que existia na esquina da Avenida Padre Eustáquio com Rua Ingaí, onde hoje funciona uma padaria. As jias eram iguarias apreciadas pela freguesia do restaurante, tinha freguês de outros bairros, inclusive, motivados pelo prato típico.
Esse pedaço de terreno também servia de esconderijo para a garotada, quando das brincadeiras de esconde-esconde. Mas, à noite, o medo falava mais alto, era um lugar escuro. Na época, nada era urbanização definida, mas me lembro detalhadamente que, junto a um dos acessos ao poço, onde hoje é o entroncamento das ruas Lorena e Belo Vale, tinha uma velha mangueira, sob a qual, nas noites de lua cheia, pessoas mais velhas, não sei por que razão, diziam ser um lugar mal-assombrado; e que ali se via a ‘mula sem cabeça’.
Hoje, já não existe nada no lugar. É um terreno, meta de murado e metade desocupado e sem vegetação. Fora, há algum tempo, invadido pela família de um tal ‘Baiano’, que ali construiu uma casinha e um barzinho anexo e, depois, a prefeitura desocupou a área, pagando ao indivíduo uma indenização.
O incrível é que, apesar de tudo, ali mesmo, ainda nos dias atuais, pode-se perceber um persistente herói: um pequeno fio de águas transparentes que aflora e vai direto para um bueiro de águas pluviais da Avenida Dom Pedro II.
Francisco Lutkenhaus, 04 de dezembro de 2004