Passadas a infância e a adolescência e, com o fim de muito espaço que era considerado sagrado, várias páginas foram viradas em definitivo.
Não seria, claro, o fim das ilusões. Porém, a História já não tem os pés descalços, e o verde vai virando cinza. As adaptações são urgentes e necessárias; quem é filho hoje será pai ou até avô amanhã. Pena que o tempo nos torna menos crianças, mais amargos e até tristonhos.
No dia 1º de maio de 2005, houve um pequeno show aéreo, que contou com a presença de poucos aviões (entre eles, um único "tucano"). Senti uma enorme vontade de ir ao Aeroclube para fotografar, mas a tristeza me impediu. Fiquei no meu canto, remoendo as saudades do tempo ido, quando tudo era grandioso.
Estamos contando o tempo para a desativação total do que seria o símbolo maior do nosso bairro - o Aeroporto Carlos Prates - em razão da ocupação da área pelas secretarias do governo de Minas Gerais. Palpite à parte, não me assustaria se mudassem o nome do bairro em dedicação a alguém que tenha se destacado na política e que nunca fez nada pelo nosso precioso logradouro.
O bendito campo de aviação evitava, por segurança, o crescimento vertical. O que traduzia, de uma certa forma, qualidade de vida, com o direito ao sol pela manhã e à tarde (isso também vai acabar).
Nossa querida avenida D. Pedro II, outrora um simples córrego, hoje está infestada por depósitos de ferro velho...
E quando vierem as secretarias, por certo, trarão o trânsito infernal e a especulação imobiliária, sobretaxando os impostos prediais e territoriais. Deverá ser, mais ou menos, como a expulsão de muitos moradores pobres, remanescentes, verdadeiros ícones da história deste pedaço de chão...
A quem interpreta bonito esse estado das coisas, minhas sinceras condolências, pois me sinto a cada dia menos, eu em função determinante do que me obrigam a ser. A solução existe: os incomodados que se retirem! (quem diria!) Certo é que vamos deixando de ser pessoas para ser não sei o quê.
Até onde suportaremos, só Deus saberia dizer, e é com Ele que contamos para tentarmos superar o destino ingrato do progresso desordenado e da negligência de quem visa apenas um lado das questões, mais precisamente o deles.
O Jardim Montanhês está, sim, no princípio do fim. Não vejo como ignorar essa tragédia. Daqui a pouco, tudo será apenas um saudoso passado.
Francisco Lutkenhaus, 3 de abril de 2005