Que bom seria viver num Jardim Montanhês de outrora... Com o mesmo espaço enorme, com tantos e tão bons amigos e a simplicidade de outros tempos. Até as dificuldades pareciam favorecer o melhor entrosamento entre as poucas famílias aqui existentes.
É preciso acordar: o tempo passou e muita coisa, naturalmente, mudou. Nada será como antes; hoje, a realidade é muito diferente. Se, por dentro, continuamos iguais, por fora também somos bastante diferentes.
A especulação imobiliária modernizou e inchou o pequeno bairro com infraestrutura, pequenos e médios prédios, muito barulho e, o pior, a chegada da violência e da criminalidade, tão distantes da nossa infância.
Hoje, os brinquedos (normalmente eletrônicos), tornaram sedentárias as crianças, pois já não há espaço para dividir com um número maior de amigos as brincadeiras saudáveis, que ampliavam o companheirismo. Já não há o contato com a mãe terra, nem a convivência mais íntima com a natureza. A televisão, com péssima programação, invadiu os lares, incentivando, pelo menos indiretamente, a violência, o sexo banalizado, a poligamia, a traição etc, quando seria de um valor enorme se houvesse mais programas educacionais e se a mídia enaltecesse os verdadeiros valores morais e culturais, que respeitassem a instituição família.
Do meu ponto de vista, é um verdadeiro inferno a difusão da política podre em horário nobre e a guerra eletrônica das mil e uma crenças, sempre defendendo sua exclusividade em salvação e poder, sem igual, do Deus individual de cada uma.
Como seria bom ser criança, de novo, para não ver nem tentar entender tanta baboseira, para poder viver a vida, pura e simplesmente. Ter um outro Jardim Montanhês, com as mesmas características do antigo, com o branco da paz e o verde da esperança, com a inocência dos justos e com o bom dia de todos os moradores.
O que foi maravilhosamente gravado em nossa memória infantil, nada nem ninguém conseguirá apagar, e sempre terá valor superior ao de qualquer tela de pintor famoso. É a estrutura de toda uma vida, incluída nessa imagem, particularmente generosa, recheada de amor, de amizade e de um ambiente de inocência, ingredientes de uma riqueza inconteste de uma geração privilegiada.
Por tudo isso, minha eterna gratidão a Deus e a todos que tiveram a mesma felicidade de participar dessa deliciosa aventura, meus saudosos companheiros épicos e a todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para a evolução e a construção moral e intelectual da nossa turminha. E, particularmente, pela oportunidade de tornar pública, em rede mundial, a epopeia de um bairro e de uma geração.
Francisco Lutkenhaus, 1º de abril de 2005