O menino José Vaz Paixão, que viria a ser conhecido artisticamente como Dom Vaz, mudou-se com a família para o Jardim Montanhês quando tinha dez anos.  “Eu morava perto do campo de aviação. A minha casa era bem pertinho, quase encostada no campo, e tinha muito mato. Perto dela havia um grande buraco onde meu irmão caiu um dia: havia mato de um lado e do outro.”Ali, naquele bairro pacato e com ares de interior, teve início sua carreira artística.

Aos 19 anos, começou a estudar música com Cecília Vilela - mãe de Elvis Vilela, grande pianista, com Dino, maestro e saxofonista da Polícia Militar, e com Nivaldo Ornellas, arranjador. Esse aprendizado foi fundamental para que ele se tornasse um grande músico, compositor, percussionista e baterista no cenário nacional.

Após algum tempo de estudo, Dom Vaz passou a tocar com o grupo Túlio e Silva, com o qual circulou em vários clubes da capital mineira, como o Iate Clube, Kart Clube e Automóvel Clube. Também tocou com o Via Prata por quatro anos, no Iate Clube e com o Guanabara Ritmo e o Célio Balona, de 1963 a 1969. Nesses sete anos, ganhou, consecutivamente, o prêmio de melhor percussionista de Minas Gerais. Dom Vaz, que atualmente tem a bateria como principal instrumento, tocava também, nessa época, maracá, pandeiro, bongô, percussão, tumbadora, ganzá e timbales.

No Jardim Montanhês, conheceu Alda, com quem se casou em 1968. Três anos depois, ele, a esposa e os dois filhos se mudaram para o Rio de Janeiro. O objetivo de Dom Vaz era estudar na Escola Villa Lobos, uma conceituada escola de música. Tendo ingressado na escola, começou a estudar, três vezes por semana. Como já havia aprendido a ler música, ele entrou na escola com adiantamento de um ano, o que fez com que concluísse o curso em três anos, em vez de quatro. "Uma das coisas boas da minha vida, da minha carreira artística, foi eu ter estudado na escola Villa Lobos, porque o músico que tem estudo, que tem cultura, está preparado para qualquer coisa", considera Vaz.

 

 

 

  

 

Na nova cidade, não demorou muito para se integrar a grupos musicais. Dom Vaz passou a tocar na Zona Sul, numa casa de show muito famosa, chamada La Licorne, onde conheceu a dupla Antônio Carlos e Jocafe, com a qual viajou pela América do Sul, tocando bateria. 

Depois de tocar com a dupla por quatro anos, Dom Vaz recebeu uma proposta de Eliana Pitman, que cantava soul, para que ele a acompanhasse em uma temporada, em substituição ao seu baterista. Vaz hesitou, por estar estudando na Villa Lobos e por não poder se ausentar da escola. No entanto, como vivia de música e a proposta era interessante, ele pediu ao Diretor que abrisse uma exceção. Ele ficaria 25 dias fora e voltaria para a escola nesse intervalo. Com Eliana Pitman, Dom Vaz fez vários shows no Rio, em várias cidades do Brasil, no México e nos Estados Unidos. 

 

 

Posteriormente, Dom Vaz tocou com Jorge Ben Jor, Tim Maia, John Alf, Ivan Lins, Maria Creuza, Maria Alcina, Tom Jobim e Dick Farney. Tudo isso porque ele pertencia à empresa de músicos Marco Lazaro. Assim, se um cantor precisasse de um músico, ele recorria à empresa e escolhia o melhor para lhe acompanhar. Como Dom Vaz tocava qualquer estilo musical, não foi difícil para que ele fosse contratado. 

Além de sair em turnês com os cantores, Dom Vaz tocava em casas como Especial Bar e Plataforma I, no Leblon, muito frequentada por Tom Jobim. Foi nessa casa que ele tocou com Mirian Batucada, com quem fazia shows nos fins de semana, e onde encontrou Milton Nascimento, que lhe fez uma proposta de ser professor na escola Música de Minas, que o cantor pretendia criar. Vaz, que já estava querendo voltar para a capital mineira, achou a proposta interessante. O problema era o fato de que a escola seria inaugurada dois meses antes de ele terminar o curso na Villa Lobos. Como Milton queria sua presença, acabou esperando por ele. Vaz, então, trocou seu apartamento no Rio de Janeiro por um em Belo Horizonte e, depois de 13 anos, em 1983, estava de volta à capital mineira.

Quando ele chegou na Música de Minas, foi recebido por Wagner Tiso, arranjador e pianista que tocava com Milton Nascimento, que propôs a ele fazer um teste. Para sua surpresa, havia nove bateristas renomados que concorreriam com ele para a vaga de professor. Wagner Tiso explicou-lhes que estavam criando a ‘Música de Minas’ e que tinham a pretensão de ser a melhor escola de música do estado e criar uma cultura de bateria, piano e contrabaixo. Para tanto, iriam utilizar o método da CLAN, Centro Livre de Aprendizagem Musical, do Zimbo Trio, de São Paulo. Os bateristas tocaram o método, que era avançado, e Vaz foi aprovado como professor. Junto com as aulas, Vaz tocava no Cabaré Mineiro, em um trio de jazz e bossa nova, o Carlos Vitorino Trio. Continuou lecionando bateria por seis anos, até o fim das atividades da escola. 

 

 

 

Com o término da ‘Música de Minas’, Vaz abriu sua própria escola de bateria, para a qual levou os ex-alunos. Sua escola funcionava no Clube Elite, em espaço alugado a um preço baixo, por Oswaldo Martins. Muitos de seus alunos conseguiram destaque nacional, entre eles Paulinho, baterista da banda Jota Quest; Hudson Vaz, seu filho, baterista do Feijão de Corda, que está entre os dez melhores grupos de música instrumental brasileira, e integrante do "Groove das Ruas"; Allisson Vaz, também seu filho, que já tocou com Wilson Sideral e, atualmente integra o Groove das Ruas; e Frederico, que já tocou no Berinbrown e, hoje, está na banda Jonhny Bravo. "Eu me considero realizado nessa parte musical. É uma glória para mim ter formado bateristas com destaque e com cultura que assumiram a música integralmente", comenta Vaz. Atualmente, Vaz toca no grupo Balanço 2 x 4 e no Dom Vaz Trio.