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Jardim Montanhês

Desde sempre, a música esteve nas entranhas dos moradores do Jardim Montanhês. Nas décadas de 50 e 60, parques itinerantes lá aportavam, tocando música brasileira, mexicana, italiana, cubana e americana. Esses parques se instalavam principalmente atrás da casa do Bacalhau, na rua Alípio de Melo com beco Estevão de Oliveira, ou numa área onde funcionava uma olaria, atrás da casa do Sr. Crioulo, e, mais tarde, no final do percurso do ônibus linha 10, depois do anel rodoviário, na rua Flor das Pedras. Havia, no bairro, o Serviço de Autofalante da Conferência Vicentina Santa Maria Salomé, na capelinha construída pelos vicentinos, na rua Estevão de Oliveira com rua Morro da Graça, nos limites do campo de aviação. Paulo Ribeiro da Silva, filho mais velho da Dona Ambrosina, era o locutor. Sapateiro de profissão, apaixonado por música, dono de um bom gosto e uma voz agradável e pausada, Paulo animava as festas e enchia o bairro de boa música com o slogan: "Este é o Serviço de Auto Falante da Conferência Vicentina de Santa Maria Salomé, que apresenta uma programação variada de músicas para você oferecer àquela pessoa de que você gosta. Ofereça-lhe uma canção que ela cairá no seu coração." Por aí, ia noite adentro. Outras vezes, uma canção cifrada, já conhecida pelos amantes, vinha acompanhada de: "Esta canção é que alguém oferece a alguém e, esse alguém, sabe quem." Quantos namoricos, paqueras e namoros sérios, que chegaram ao casamento, não foram embalados pela voz do locutor Paulo!

 

Não era de graça que Paulo atuava como locutor. Em sua casa, ele tinha uma radiola hi-fi e um montão de discos 78 rotações, long-plays e, mais tarde, compactos simples e duplos. Ele os levava para tocar na capelinha. Lá, as pessoas, quando das festas religiosas que aconteciam o ano inteiro, ofereciam músicas e pagavam um trocado para ajudar nas despesas da igreja. Artistas como Trio Iraquitan, Miguel Anceves Mejia, Nelson Gonçalves, Anísio Silva, Ataulfo Alves, Orlando Silva, Orlando Dias, Vicente Celestino, Ângela Maria, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Trio Los Panchos, Ivan Curi, João Dias, Nat King Cole, Bienvenido Granda e tantos outros sempre estavam no ar naquele território livre do Jardim Montanhês.


Lugar de músicos

Quem não se lembra do Feio, que tocava um violão preciso e colecionava um repertório raro? Sr. Didi, que, até dois anos atrás, ainda estava entre nós, talvez tenha sido um dos maiores músicos do Jardim Montanhês de todos os tempos. Tocavam lá também o Tonico do pandeiro, o Totonho do cavaquinho, o Augusto da guitarra (onde será que anda o Augusto?), o Rone, o Cabral, o Toninho, o Carlinhos Melquíades, o Dedego do bongô, o Círis, o Zinho, o Lúcio Fonseca (que nem era do bairro, mas estava sempre por lá) e o Eustáquio, que tocava um piston estragado que sempre soltava, no meio da serenata, uma nota fora, e o danado nunca consertou o tal piston. O saudoso João Bernardinho (João Grandão), como tantos outros, anda tocando noutra dimensão. O Guilherme deixou-nos ainda há pouco. O João Planeta, que era do Padre Eustáquio e que sempre andava por aquelas bandas, casou-se lá e, atualmente, toca na noite. O Vaz Batera também passou por lá, namorou a Aldinha e casou-se com ela; os dois foram morar na rua Moema. Não podemos esquecer o Zezinho do acordeom e o Sr. Mário, que animava as quadrilhas com sua sanfona; o Aladim baterista; o Pedrinho e o Geraldinho do Magnata; o Oscar, compositor de primeira linha; o Osias, compositor; a Juliana Neves Barbosa, dona de uma voz incrível e de uma sensibilidade à flor da pele; o Hugo, que morava na rua Alípio de Melo; o Toninho, investigador; o Resende e a Fizuca, que cantavam em dupla e se apresentavam no rádio, e o Eugênio Gómez, certamente um dos melhores compositores da nossa MPB, dono de uma extensa obra de qualidade inquestionável e autor da música "Infância", que faz um retrato do Jardim Montanhês de ontem. Além desses, existem outros músicos da nova geração que ainda não estão neste museu, mas, certamente, têm espaço garantido nele.

Com tantos músicos, não podia ser diferente: as serenatas aconteciam sempre para encantar, disputar e conquistar as meninas, que, na época, eram poucas e, diga-se de passagem, muito difíceis. Era comum grupos de seresta se encontrarem no cruzamento de algum roteiro e se ajuntarem. Música no Jardim Montanhês era o alimento da alma de seus moradores

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