Creio tratar-se de um justo e merecido resgate do que foi, na vida de cada um de nós - memórias vivas - esse pedaço de chão que serviu de base na nossa infância e adolescência. A montagem de fatos que, somados ao passar do tempo, contam a verdadeira história, rica em detalhes que mesclam a pobreza, a amizade, os costumes e a “evolução” do bairro, mudanças profundas que acumulam muita saudade.
Assim como não há como impedir o progresso, também não há como apagar de nossas memórias um passado quase recente, cheio de amor, amizade e liberdade, dentro de padrões do mais profundo respeito.
Nos 56 anos por mim vividos, quase todos no Jardim Montanhês, pude armazenar não apenas um livro, mas toda uma vida ladeada pelos primeiros moradores, com uma interdependência sadia entre as famílias e o doloroso adeus aos muitos que já se foram.
Não gosto de falar muito porque, entre a felicidade da infância e a que vivo hoje há muita diferença. Confesso, apesar de possuir o que jamais teria passado pela minha cabeça na infância, que, se pudesse, teria parado o tempo lá mesmo. Acredito que muitas pessoas pensem dessa forma, mas, diante do impossível, restaram as saudades que cada um carrega como uma cruz, em direção ao calvário.
Francisco Lutkenhaus