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Depoimentos

Enviado por marina em 01/08/2012 18:10:00 ( 2793 leituras )
Depoimentos

2111Mudamos aqui para Vila Minas Gerais, eu estava com 13 anos, aos poucos fui conhecendo os moradores do bairro. Minha primeira amiga foi Odete, ela tinha mais quatro irmãs e dois irmãos. Um dia nós estávamos conversando na rua da minha casa, e passou um rapazinho muito simpático, eu perguntei a ela quem era, e ela me disse, “é o Dico, filho da comadre de minha mãe, ele já foi meu namorado, agora eu namoro o colega dele”. E nós ficávamos conversando todo dia, assim à tarde ele vinha aqui, conversar comigo, até que um dia ele me falou que sempre perguntava por mim, ele passava na rua de cima e eu sempre estava no portão a tarde, mas ele não se aproximava de mim, quando ele parava eu corria para dentro, com medo de papai ver eu olhando para ele. Assim foi muito tempo, até um dia que eu fui na Vila Celeste Império com a Carminha, eles já tinham combinado. Ela pediu ao papai para ir com ela comprar leite e ele estava ali na casa do João, colega dele, ele falou assim com a Carminha, “vou descer com vocês”, eu queria voltar, mas a Carminha me segurou pelo braço, e nós fomos. Carminha tinha uns 20 anos, eu tinha 14 e ele uns 17, quando ele passava para o meu lado, eu passava para o outro da minha colega, e aí nós fomos até onde era a loja do senhor Benjamim. Eu não falava com ele de jeito nenhum, mas papai resolveu casar de novo, e no dia do casamento do papai teve uma festa, e aí uma moça que veio do casamento disse na hora que eu desci do carro que tinha um rapaz que pediu para me chamar. Quando eu vi, era ele, e ele falou assim, “hoje você pode falar comigo, hoje o seu pai não vem atrás”, foram poucos minutos, não demorou muito, meu irmão Didi chegou e falou assim, “passa para casa”, a moça que estava comigo falou assim com ele, “pode deixar, eu estou com ela”, e ele disse, “nada disso, vai para casa”. A Soraia ficou boba de ver como eu obedecia ao meu irmão. Depois disso nós começamos a conversar escondido, até que um dia ele foi para Monlevade, para trabalhar. Então comecei a namorar outro rapaz. Quando ele voltou, veio aqui no bairro e ficou sabendo que o rapaz ia me pedir em casamento, então ele procurou o rapaz e falou com ele assim, “ela vai voltar pra mim, você vai ver”. Então o Francisco me contou, e eu falei para ele, “não sei por que?”. Papai gostava muito do Francisco.
Depois fiz as pazes com Dico, namoramos dois anos e eu não queria deixar ele ir lá em casa, porque a Chica estava dormindo na sala, ela tinha ganhado o Fernando. Mas Dico falou com Ambrozina, “eu quero ir na casa de Isabel, mas ela não quer que eu vá lá, porque eles estão recebendo as pessoas na cozinha”, então Ambrozina falou com ele, “pode ir, eu vou falar com papai”, e ele falou, “Ambrozina, eu quero ir porque quando seu pai souber, vai pensar que eu sou moleque”. Então falei com a Dinha para falar com papai, namoramos dois anos e no dia do meu aniversário ele me pediu em casamento e falou com papai:“assim que meu irmão chegar do Rio nós marcamos o casamento”. Fiquei feliz, não sei como, mas ele pediu a Dinha um anel que eu tinha e mandou o senhor Chiquinho fazer as alianças, quando ele me pediu em casamento, me deu as alianças, pra mim foi uma surpresa. Quando Totonho chegou ainda demorou mais dois anos, tivemos que esperar ele arrumar serviço para ajudar os pais. Assim deu tempo pra eu arrumar o meu enxoval. Didi, meu irmão, me deu dinheiro para comprar o vestido de casamento. Ele iria ser meu padrinho, mas o casamento adiou mais três meses, Maria estava esperando Anézia, que nasceu no dia 18 de dezembro. Então foi Ercília e Otávio. Otávio, me lembro ainda, tinha chegado de Itabira, me deu 700 mil reis para ajudar no meu enxoval. O marido de Ambrozina me deu 100 mil reis para comprar sapato, e foi assim, todos fizeram muito gosto do meu casamento. A Chica, minha irmã fez o meu vestido de noiva, ficou muito bonito, foi de cetim bege, e o Dico também, o terno dele era muito bonito. Ele comprou os móveis, muito bonitos, tudo direitinho, até os mantimentos. Dois dias antes do casamento, quando ele me chamou para ver os móveis, o Paulo e a Ambrozina foram comigo, eu estava olhando tudo, muito feliz, porque em casa eu não tinha nem guarda-roupa, nem cristaleira. Era tudo muito bacana, foi tudo muito bom, quando Paulo veio correndo com um pinico, e disse “minha tia, ele não esqueceu do pinico”, eu fiquei com vergonha e saí correndo, fui embora e a Dinha perguntou, “o que foi”, e eu disse, “o Paulo é muito chato, veio logo me mostrar o pinico”. Depois de uma semana nós fomos arrumar os papéis do casamento, que foi no dia 07 de dezembro de 1946. A minha irmã Ambrozina falou com papai, “já que vou dar o dinheiro da festa, nós temos que fazer uma festa igual a do casamento da Chica”, e ela trabalhou muito e fez mesmo uma festa num instante. Ela arranjou ajudantes para fazer os salgados e os bolos.
Casamos, fui feliz muitos anos, até que um intrigante, invejoso, me fez sofrer muito, nosso amor foi se transformando em desconfiança e nós sempre brigávamos. Quando nós namorávamos ele me escrevia cartas, porque quando ele ia lá em casa, a gente pouco conversava, um dia me mandou os mandamentos do amor, tinha muitas cartas, mas um dia as meninas estavam arrumando as gavetas e acharam as cartas, e uma chamou a outra, “olha só o que o papai escreveu para a mamãe”, mandamentos do amor.

 

 Festa de Sâo João

 Minha irmã Ambrozina gostava de fazer festa no dia de São João. Era muito animada e alegre, chamava as moças do bairro para dançar quadrilha, tinha casamento na roça, fogueira, canjica, pé de moleque, salgadinhos, chamava o Sr. Mario Sanfoneiro, os filhos dele soltavam balão, era uma festa muito bonita, o pessoal do bairro, todos vinham assistir o casamento na roça e dançar na quadrilha. Paulo, meu sobrinho, vestia-se de padre e fazia o casamento, depois os noivos saiam de carroça, o pessoal acompanhava e voltava com os noivos, na chegada soltavam foguetes e começava a quadrilha. Na fogueira assava batata doce e as moças ficavam tirando a sorte em volta da fogueira, era muito bom. Tenho saudade desse tempo.
Na casa da Chica, minha irmã, rezava o terço de Santo Antônio, o nosso vizinho, seu José Caiana, rezava o responso de Santo Antônio cantando, e o pessoal que estava assistindo cantava também.

 

Comício do Sardinha

Na rua Alípio de Melo teve um comício do Sardinha. Ele era candidato a vereador. Como eles fazem muitas promessas, ele prometeu por a linha do ônibus, Jardim Montanhês, que foi uma alegria muito grande para os moradores do bairro. Ele prometeu e cumpriu, no outro dia inaugurou a linha de ônibus, Jardim Montanhês, foi muito bom, porque a gente ia pegar o ônibus Progresso, na rua Pará de Minas. O pessoal do bairro ficou muito agradecido ao Sardinha.

 

Convento D. Gina

Na rua Henrique Gorcex tem um convento que eu sempre ia com a pastoral da saúde para visitar as idosas. Em frente tem uma capela, e as terças-feiras celebravam missa. Quem toma conta da capela são os Vicentinos. Lá tem 9 quartinhos, em cada um mora uma idosa. O pessoal do bairro sempre vai visitar, cada uma conta uma história, outras não sabem de mais nada. Elas se queixam que os parentes não visitam mais, mas se alegram com as nossas visitas. Os médicos do posto de saúde consultam elas, aquelas que ainda podem andar, vão até o posto, tem uma pessoa para leva-las lá. A assistente social vai sempre lá. as enfermeiras e os remédios são fornecidos pelo posto de saúde. As idosas da 3º idade fizeram quadrilha e vão dançar lá para alegrar a elas também.


Diversão   
Aqui na Vila também tinha campo de futebol, onde aos domingos o pessoal do bairro ia se divertir um pouco, era o único divertimento que tinha por aqui. Também as moças e rapazes brincavam de roda ali na casa de Dona Geru, tinha um terreiro grande. À tarde vinham todas as moças para brincar de roda, cada uma punha um verso mais bonito. Também brincavam de passar anel, berlinda e outras brincadeiras.
 Aos domingos todas as pessoas iam à capela Cristo Rei, a única igreja que tinha por aqui, eram os padres do bairro Carlos Prates que celebravam a missa aqui, Frei Zacarias, Frei Orlando e outros freis, eles eram muito alegres, brincavam muito com as crianças depois da missa.
A rua Lorena ia até a Vila Celeste Império, e a rua Alvorada ia até a rua Ipanema, depois é que fizeram o campo de aviação e aí cortou a metade da rua Lorena. Essa rua que nós morávamos era a rua Ipiranga, depois passou a ser Morro da Graça e depois Estevão de Oliveira. Ficou mais distante para as crianças irem para o grupo Professor Morais, que antes eram só duas salas e o nome era Escolas Unidas da Vila Celeste Império. Depois que fizeram o campo de aviação, os meninos passavam por dentro do campo para irem a escola, e só depois de muitos anos é que fizeram uma escola aqui no bairro, a Escola Estadual Eliseu Laborne e Vale. Em 1942, quando Padre Eustáquio veio para cá, ele ganhou um terreno para fazer o grupo Padre Eustáquio e a Igreja, antes ele celebrava missa numa casa que ele ganhou do Dr. Álvaro Camargos, mas ele só começou a igreja benzendo a primeira pedra. Ele tinha falado que ia mandar outro padre para tomar conta da construção, parece que ele tinha adivinhado que iria morrer, falou que a igreja iria ser muito bonita, igual as igrejas de São Paulo, ia construir a ASPE, Ação Social do Padre Eustáquio onde tinha o lactário para o leite, o mingau, para as crianças pobres e médico. Vários médicos do nosso bairro foram abençoados. Recebi muitas graças da alma de Padre Eustáquio.

 

Campo de Aviação

Meu pai trabalhou no campo, ele e meu irmão, fizeram a primeira garagem de avião, que ele dizia que era Hangar. Foi o Dr. Joviniano Góis, o engenheiro que o chamou para fazer o serviço. Muitos operários trabalharam no campo, muitos eram de Lagoa Santa, Sete Lagoas, São Domingos do Prata, aqui mesmo da Vila Celeste Império, Vila Minas Gerais e outras. Antes do campo muitos operários trabalhavam na pedreira na Vila São José, na fazenda Alípio de Melo, e outros na cidade. No final da rua Alípio de Melo tinha uma porteira onde ia para a fazenda. Quando o pessoal da fazenda ia para cidade, deixavam os cavalos amarrados na Olaria. Meu pai também fez serviço de carpinteiro na fazenda do Doutor Inácio, ele gostou muito do serviço que ele fez. Na rua Alvorada tinha também a casa de Pedra onde moravam dois homens, dos dezessete que trabalhavam na Pedreira.

 

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Izabel e sua irmã Ambrozina, na porta da casa em que morava, localizada na rua Estevão de Oliveira, n° 69, no Jardim Montanhês.

                                                                             

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