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Arquitetura e Urbanismo
 
Ao decidir construir uma nova capital no centro do Brasil, Juscelino Kubitschek convidou Oscar Niemeyer para projetar as principais edificações da cidade. Já para escolher o projeto urbanístico para o Plano Piloto, em 1957, foi realizado um concurso. Nessa época, Lúcio Costa era um arquiteto de renome internacional e abalado pela morte de sua esposa Leleta não queria participar do concurso. Acabou cedendo à insistência dos amigos e da família e concebeu o projeto durante viagem de navio, quando retornava de Paris para o Brasil.

Foram apresentados 26 projetos e Lúcio Costa foi o vencedor. No seu projeto estão unidas as referências mais marcantes de sua vida: a história da arquitetura, o olhar sobre diferentes terras, as lembranças da infância na Europa, a teoria arquitetônica funcionalista, os princípios de Le Corbusier e um desejo de encarnar sua visão política e social em concreto armado.  É o próprio Lúcio Costa quem narra os “ingredientes” usados na composição urbanística de Brasília: “1° - Conquanto criação original nativa, brasileira, Brasília – com seus eixos, suas perspectivas, sua ordonance – é de filiação intelectual francesa. Inconsciente embora, a lembrança amorosa de Paris esteve sempre presente. 2° - Os imensos gramados ingleses, os lawns da minha meninice – é dai que os verdes de Brasília provêm. 3° - A pureza da distante Diamantina dos anos 20 marcou-me para sempre. 4° - O fato de ter então tomado conhecimento das fabulosas fotografias da China do começo do século (1904±) – terraplenos, arrimos, pavilhões com desenhos de implantação – contidas em dois volumes de um alemão cujo nome esqueci. 5° - A circunstância de ter sido convidado a participar, com minhas filhas, dos festejos comemorativos da Parson School of Design de Nova York e de poder então percorrer  de ‘Greyhound’ as auto-estradas e os belos viadutos-padrão de travessia nos arredores da cidade. 6° - Estar desarmado de preconceitos e tabus urbanísticos e imbuído da dignidade implícita do programa: inventar a capital definitiva do país.”¹
 
De formato aproximado ao de um avião o Plano Piloto seria cortado de Norte a Sul pelo Eixo Rodoviário e de Leste a Oeste pelo Eixo Monumental. Para o Plano Piloto Lúcio Costa procurou prever a circulação de automóveis, transporte público, espaços e caminhos para pedestres, lugares onde as pessoas viveriam, trabalhariam, fariam suas compras e teriam momentos de lazer. Ele pensou na cidade em três escalas: a monumental para os espaços e edifícios públicos; a gregária, com diferentes setores de circulação de pessoas envolvendo trabalho, lazer e alimentação e a residencial, chamada de superquadras, que acolheria os indivíduos com qualidade de vida.

O tema central seria a Esplanada dos Ministérios, em especial o triângulo formado pela Praça dos Três Poderes, sendo cortado pelo Eixo Monumental. Já o Eixo Rodoviário ou “Eixão” permitiria atravessar sem interrupções toda a envergadura do Plano. Era através do Eixo Rodoviário que se teria acesso às superquadras residenciais, às quadras comerciais e às entrequadras de lazer e diversão, onde haveria também escolas e igrejas. Os edifícios residenciais deveriam possuir seis andares e pilotis, sem muros e estacionamento público. O arquiteto propunha reunir nas áreas de vizinhança as várias categorias econômicas que formavam a sociedade com o intuito de evitar a estratificação da cidade em bairros de ricos e bairros de pobres. Segundo Lúcio Costa, “lamentavelmente, este aspecto fundamental da concepção urbanística de Brasília não pôde ser realizado. De uma parte, o ‘falso realismo’ da mentalidade imobiliária insistiu em vender todas as quadras a pretexto de tornar o empreendimento autofinanciável; de outra parte, a abstração utópica só admitia um mesmo padrão de apartamentos, como se a sociedade atual já fosse sem classes. E assim, a oportunidade de uma solução verdadeiramente racional e humana para a época, se perdeu.” ²
 
Hoje a área do Plano Piloto não comporta toda a população de Brasília e as pessoas com menor poder aquisitivo moram em cidades satélites nas áreas mais periféricas, muitas vezes violentas e sem infraestrutura. Além disso, a grande valorização dos apartamentos situados no Plano Piloto provoca a migração até mesmo de parte da classe média brasiliense, que opta por morar em cidades satélites como Águas Claras, que possuem residências mais baratas e mais novas.

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¹COSTA, Lúcio. Registo de uma vivência. 1986. In: COSTA, Maria Elisa. Com a palavra Lúcio Costa. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001, p. 93.
²COSTA, Lúcio. O urbanista defende sua cidade, 1967. In: COSTA, Maria Elisa. Com a palavra Lúcio Costa. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001, p.101.

 

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