De Renato Manfredini Júnior a Renato Russo
O ícone do punk rock de Brasília, Renato Manfredini Júnior, popularmente conhecido como Renato Russo, nasceu em 27 de março de 1960, no Rio de Janeiro. Aos sete anos foi morar em Nova Iorque, devido à transferência de seu pai, servidor público do Banco do Brasil, para os Estados Unidos. Em 1969, o pai de Renato foi novamente transferido, dessa vez, para Ilha do Governador, onde permaneceu até 1973, ano em que foi convocado para trabalhar em Brasília.
Residente na capital, aos 15 anos, Renato foi afetado por uma doença óssea rara, chamada epifisiólise, que o prendeu à cama por dois anos. Nesse período, Renato leu e estudou bastante, em 1977, já restabelecido, passou no vestibular para Jornalismo, na Universidade de Brasília (UnB). Durante o período em que esteve doente Renato demonstrou vontade de criar uma banda. Na época chegou a adotar seu primeiro nome artístico, Eric Russel, que mais tarde se tornaria apenas Russo, em homenagem a um de seus filósofos preferidos, Bertrand Russel.
Em 1978, aos 20 anos, Renato realizou seu primeiro show como vocalista e baixista do Aborto Elétrico, ao lado do guitarrista André Pretorius. A banda quase foi interrompida, devido à saída de Pretorius, que partia para a África a serviço militar. Foi nesse momento que Felipe Lemos e Ico Ouro Preto passaram a integrar o Aborto Elétrico. Mas a nova formação não permaneceu por muito tempo, devido a brigas entre Renato e Felipe Lemos.
Renato passou a fazer apresentações solo, fase em que se tornou conhecido como “O Trovador Solitário”. Mas os shows solo não pareciam bastar. Assim, com o objetivo de formar uma nova banda, Renato convidou o baterista Marcelo Bonfá para integrar a futura Legião Urbana. Para a formação ainda foram convidados o guitarrista Eduardo Paraná e o tecladista Paulo Paulista. Dentro de pouco tempo, Paraná deixou o grupo para se dedicar ao violão clássico. Um mês após sua saída, Ico Ouro Preto, que também integrava o novo projeto, deixou a banda. Assim, em março de 1983, Dado Vila-Lobos foi convidado para assumir, definitivamente, a guitarra na Legião Urbana.
Formação, êxito e o legado da Legião Urbana
Em 23 de julho de 1983, a Legião Urbana realizou seu primeiro show no Rio de Janeiro. Após a apresentação, a banda foi convidada pela EMI Odeon a gravar uma fita demo. Mas antes mesmo que o pedido da gravadora fosse feito, os fãs da banda já trocavam gravações piratas produzidas nos shows. Em outubro de 1984, a Legião Urbana fechou contrato com a EMI. Nesse ano, Renato Rocha foi convidado por Marcelo Bonfá para assumir o baixo. Assim Renato Russo poderia se dedicar integralmente aos vocais. No ano seguinte, foi lançado o primeiro álbum que levou o nome da banda. O disco reuniu faixas de sucesso como “Será”, “Ainda é cedo”, “Geração Coca-Cola” e “Por Enquanto”. Com a ascensão, os integrantes da Legião Urbana deixaram Brasília e foram morar no Rio de Janeiro.
Para o segundo álbum era prevista a produção de um disco duplo, intitulado “Mitologia e Intuição”. Mas em 1986 foi lançado o álbum “Dois”, com apenas 12 faixas. No ano seguinte, o cenário musical brasileiro recebeu o disco “Que País é Este”, com diversas músicas compostas na época do Aborto Elétrico, e a desafiadora “Faroeste Caboclo”, de 10 minutos e 159 versos, sem repetições. Nesse percurso, a Legião Urbana começava a ser considerada a maior banda de rock do Brasil.
No entanto, em 1988, dois fatos negativos marcaram a trajetória da banda. A atitude agressiva que Renato teve diante da ação de um fã, que invadiu o palco e o agarrou durante o show do Festival Altamont, sediado no estádio Mané Garrincha, e a saída do baixista Renato Rocha, devido às divergências entre os membros da banda. Contudo os problemas não interferiram na carreira da Legião Urbana. O quarto álbum, intitulado “As Quatro Estações”, foi lançado em novembro de 1989. Afirmando a consolidação da banda, em 11 e 12 de agosto de 1990, o grupo realizou dois shows no Parque Antártica, que reuniram mais de 80 mil pessoas. Nas apresentações, o público chegou a aclamar a banda por “Religião Urbana”, trocadilho que não agradou Renato Russo.
Em 1991 foi lançado o álbum “V”, época em que Renato enfrentava problemas com drogas e álcool. Já em outubro de 1992 foi gravado o “Acústico MTV Legião Urbana” – comercializado somente em 1999 - e, no mesmo ano, foi lançado o disco “Música para Acampamento”, com canções de 1984 a 1992. A produção da Legião Urbana não cessava e em novembro de 1993, o grupo lançou o disco “Descobrimento do Brasil”. Mas a turnê de divulgação do álbum só teve início em junho de 1994, após a gravação do primeiro disco solo de Renato, “The Stonewall Celebration Concert”.
O dia 14 de janeiro de 1995 ficou marcado na história da Legião Urbana como a data de sua última apresentação pública. Após o evento, Renato passou a se dedicar à produção do segundo disco solo, “Equilíbrio Distante”, lançado no mesmo ano. Em 1996, o grupo começou a gravar o álbum “A Tempestade”. Apesar de mais de 30 faixas terem sido produzidas, apenas 15 foram lançadas em setembro daquele ano. Um mês depois outra surpresa entristeceu os fãs da Legião Urbana. “No dia 11 de outubro, 1h15, morre Renato Russo em seu apartamento na rua Nascimento Silva, em Ipanema, no Rio de Janeiro. A Legião Urbana acaba oficialmente uma semana depois, deixando milhões de fãs órfãos.”¹
Com a morte de Renato Russo, em 1997 foram lançados os discos póstumos: “A Última Estação” e “O último solo”, o primeiro com as músicas não inseridas no disco de 1996, e o segundo com canções que não fizeram parte do “The Stonewall Celebration Concert”. Em 1998 era lançada a antologia “Mais do Mesmo”, com os grandes sucessos da Legião Urbana e, em 2001, o disco “Como É Que Diz Eu Te Amo”, constituído por shows gravados no Metropolitan, no Rio de Janeiro. “Renato Russo Presente”, álbum póstumo composto por músicas inéditas, parcerias e trechos de entrevistas, foi lançado em 2003. Já em 2011, os fãs de Renato Russo puderam matar a saudade do ídolo, por meio do documentário “Rock Brasília – Era de Ouro” , que conta a história das bandas que alavancaram o rock brasiliense na década de 80.
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