Em 19 de setembro de 1956, o Congresso Nacional aprovou e JK sancionou a Lei n° 2.874 que “fixava os limites do futuro Distrito Federal e autorizava o governo a instituir a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), cuja presidência foi entregue ao deputado federal Israel Pinheiro”. ( Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro, CPDOC- Fundação Getúlio Vargas). Bernardo Sayão e Ernesto Silva foram nomeados diretores desta companhia, que seria responsável pela construção de Brasília.
Essa mesma lei, mediante emenda do deputado Francisco Pereira da Silva, do PSD do Amazonas, resgatou o nome Brasília, sugestão apresentada em 1823 por José Bonifácio de Andrada e Silva. JK gostou do nome, pois o considerou adequado ao sentido integracionista da nova capital .
No dia dois de outubro, JK foi pela primeira vez às terras onde se fundaria Brasília. Na região só havia árvores do cerrado e nenhum tipo de infra-estrutura. “O Presidente posava de visionário. Descreveu uma cidade encantada. Aqui um lago, lá um palácio transparente, além os 3 Podêres da República. O vidente Juscelino não viu o sorriso irônico do pequeno auditório que testemunhou êsse quadro” (Revista O Cruzeiro de 07 de maio de 1960) . Poucos eram os que acreditavam que a nova capital pudesse realmente ser erguida em local distante, de difícil acesso e em tão curto espaço de tempo, pois a inauguração deveria ocorrer em 21 de abril de 1960.
A primeira medida adotada por JK foi instituir um concurso para criar os planos arquitetônicos e urbanísticos de Brasília. Lucio Costa foi o vencedor, com um Plano Piloto de linhas simples e meticulosamente dispostas que deveriam ser acolhedoras e capazes de proporcionar conforto aos futuros moradores. O seu plano era conformado a partir do sinal da cruz e segundo Lucio Costa, “a idéia nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz” . (Relatório do Plano Piloto de Brasília, escrito por Lucio Costa, texto disponível no site: http://portal.iphan.gov.br).
Plano Piloto de Brasília.
Oscar Niemeyer, por sua vez, ficou responsável por imprimir a modernidade necessária à futura capital, e, em fevereiro de 1957, passou a chefiar o Departamento de Urbanismo e Arquitetura. Equipes especializadas, em coordenação com Lucio Costa, formularam planos complementares para a cidade nas áreas administrativa, educacional, de saúde, assistência social e abastecimento . Afinal, era preciso criar uma infra-estrutura que permitisse aos funcionários do governo habitar a cidade, com moradias, hospitais, escolas, e tudo o mais que uma cidade deveria ter.
Na área de educação, foi elaborado um sistema escolar público aprovado pelo Ministério da Educação e Cultura que previa a realização, em Brasília, de uma educação integral às crianças e adolescentes. Além disso, esse plano procurava também distribuir de forma equitativa as escolas ao longo do Plano Piloto, para que as crianças percorressem o menor trajeto possível para chegar até a instituição de ensino. Já o planejamento hospitalar da cidade, elaborado e desenvolvido pelos Drs. Ernesto Silva e Henrique Bandeira de Mello, tinha por objetivo proporcionar a todos uma assistência de alto padrão, procurando atender os habitantes no próprio bairro em que residiam. Para isso, seriam criados um hospital base, hospitais distritais, hospitais rurais e unidades satélites, destinadas a atender às populações mais afastadas da cidade .
JK costumava ir ao Planalto pelo menos duas vezes por semana, para verificar o andamento dos trabalhos e assim descreveu sua experiência: “O espetáculo era deslumbrante. Guindastes bracejavam, transportando material dos caminhões para os canteiros de obras. Polias giravam, fazendo andar as esteiras rolantes que levavam o cimento para as fôrmas de madeira. Homens corriam. Buzinas roncavam. O próprio chão estremecia, rasgado pelas Estacas Franki. Os edifícios iam surgindo da terra, perfurada em todas as direções. Cada obra ostentava uma tabuleta com os dizeres: ‘Iniciada no dia tal. Será concluída no dia tal.’ Além das tabuletas, havia a minha fiscalização pessoal. Conversava com os operários, lembrando-lhes a necessidade de que a cidade ficasse pronta no prazo prefixado”. (KUBITSCHEK de Oliveira, Juscelino. Por que construí Brasília. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1975, p. 81) .
A maior parte dos trabalhadores empregados na construção da cidade era oriunda das regiões Norte e Nordeste do país, os chamados “candangos”. Eles traziam consigo o sonho de uma vida melhor e muita disposição para trabalhar. A oportunidade de trabalho na construção da nova capital era vista por muitos como a única chance de conquistar condições dignas para si e suas famílias. Brasília era o sonho a ser construído do barro do cerrado
Candango chegando a Brasília
Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal
No curso dos trabalhos da construção de Brasília, Carlos Lacerda, político opositor ao governo JK, membro da União Democrática Nacional (UDN), encabeçou um pedido de instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar irregularidades na contratação das obras. No entanto, ele não conseguiu êxito, as obras continuaram e após 3 anos e 5 meses, na data simbólica de 21 de abril, em 1960, JK inaugurou solenemente a nova capital.
De novembro de 1956, quando se iniciaram as obras, até a inauguração, em 21 de abril de 1960 foram concluídas as seguintes construções: Catetinho, Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal, onze edifícios ministeriais, Palácio da Alvorada, Imprensa Nacional, três mil moradias, hospital público com quinhentos leitos, hotel de turismo com cento e oitenta apartamentos, aeroporto provisório, escolas, clube náutico, concha acústica, Ermida Dom Bosco, Igreja Nossa Senhora de Fátima, barragem do rio Paranoá, estação ferroviária e eixo rodoviário.